Micaela Oliveira © 2018
Fui sempre sonhando e lutando para conquistar os meus anseios e desejos. Vivi a minha juventude sobre pontas de ballet cor-de-rosa, que me recordavam todos os sonhos de menina e inúmeras vezes me lembravam esse amor. Perguntava-me onde ele estaria, se ele também se recordaria de mim, se algum dia nos encontraríamos… e todas essas perguntas e pensamentos ficavam sempre no ar, sem respostas ou conclusões.
Alguns homens deixei entrar na minha vida, tocar o meu corpo, sentir o meu cheiro, mas todos eles tinham data de partida. Era como se nada nem ninguém chegasse perto da intensidade do que sentia ao recordar e sonhar aquele amor. Repetidamente, de noite, antes de dormir, pensei se o meu coração não teria levado a sério de mais as nossas brincadeiras de criança. Mas hoje sei que não, o meu coração apenas já sabia…
Tornei-me bailarina como sempre quis, pude sentir o calor de vários palcos e o apreço do público. No palco sentia-me num mundo encantado, o mesmo da infância… aquele lugar mágico onde tudo era possível e em que o ar era a brisa que sentia no rosto enquanto rodopiava sobre a leveza das minhas pontas. Mas havia uma enorme diferença que não me permitia sentir completa - no final, não era nos braços dele que terminava. E talvez por isso, todos os meus solos acabavam no chão, num suspiro intenso e dramático.
Anos mais tarde reencontrei-o. Numa daquelas estranhas coincidências da vida, que muitos tentam explicar, mas ao certo ninguém sabe a sua ciência.
Era um dia como outro qualquer. Acordara na mesma rotina de sempre, longe de imaginar que os nossos caminhos se encontrariam… E, de repente, os nossos olhares cruzaram-se. Não consigo descrever o que naquele momento aconteceu… o reconhecimento foi mútuo, silencioso e intenso. A minha alma revirou o meu corpo e o meu coração palpitava mesmo ali debaixo da pele. Os meus olhos vidraram e, de sorriso cheio de luz, sussurrei um olá atónito. Não sei ao certo durante quanto tempo partilhámos confidências, apenas sei que o dia tornou-se noite e, desde então, nunca mais nos prescindimos.
Vivemos o amor com toda a intensidade possível. A promessa de meninos tornou-se um querer de homem e mulher. O sentimento e a loucura do afecto suplantaram reiteradamente a razão e a lógica. A nossa pele queimou ao ceder às vontades, os nossos corpos uniram-se numa junção perfeita de desejo e respeito. E, assim, acertámos o passo na certeza que a dança seria feita a dois.
Dançámos todas as músicas possíveis e escrevemos a nossa história…
Veja toda a história e deixe-se surpreender!